UM OLHAR SOBRE OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

por Rosana de Luca Cardillo (*)



Muitas pessoas acreditam que a aprendizagem da matemática é um privilégio para poucos indivíduos. Será isso verdade? Por que esta dificuldade está presente não só na vida escolar de muitos estudantes, mas persiste no dia a dia de inúmeros adultos?


A matemática sempre foi um bicho de sete cabeças para a maioria das pessoas e este conceito vem passando de geração a geração.

Precisamos começar a desvendar este enigma e para isso é necessário compreender que ao falarmos em transtorno de aprendizagem da matemática, podemos estar falando de diferentes causas, desde problemas cuja origem não está com a criança, como a metodologia utilizada e a adequação do currículo, até questões psicoafetivas, emocionais, sociais e/ou culturais.

Outros fatores como os de origem orgânica, ou seja, déficits cognitivos, doenças psiquiátricas, danos ou doenças neurológicas também podem levar ao fracasso acadêmico, porém este não será específico à aprendizagem da matemática.

Outra causa menos conhecida até mesmo entre os profissionais da área da educação e da saúde e que quero destacar aqui é o “Transtorno Específico das Habilidades Matemáticas” ou “Discalculia do Desenvolvimento” que faz referência a uma desordem neurológica específica, onde “os padrões normais de aquisição de habilidades matemáticas são perturbados desde os estágios iniciais do desenvolvimento. Esta dificuldade contrasta com um potencial cognitivo normal, não é consequência de uma falta de oportunidade de aprender nem é decorrente de qualquer forma de traumatismo ou de doença cerebral adquirida. Ao contrário, pensa-se que os transtornos originam-se de anormalidades no processo cognitivo, que derivam em grande parte de algum tipo de disfunção biológica” (CID – 10).

Podemos, portanto, concluir que a discalculia apresenta-se como uma imaturidade das funções neurológicas ou uma disfunção sem lesão. As evidências relacionadas à agregação familiar e herdabilidade elevada indicam uma disfunção neurológica de origem genética.

Embora menos conhecida e menos diagnosticada, estudos realizados em diversos países têm mostrado que a “Discalculia do Desenvolvimento” é tão prevalente quanto os transtornos envolvendo a leitura e escrita, oscilando entre 3% e 6% das crianças em idade escolar. É um transtorno não adquirido e de condição perseverante. A dislexia e o TDAH podem se apresentar em comorbidade com a Discalculia, porém esta não deve ser confundida com estes transtornos, já que a discalculia está relacionada a uma dificuldade com o senso de magnitude, a linha numérica, o processamento temporal e viso espacial.

Alguns sinais da dificuldade podem ser percebidos precocemente já na pré-escola, mas nenhum diagnóstico poderá ser feito antes que a criança tenha sido exposta à instrução formal em matemática por pelo menos um ano, ou seja tenha cursado o segundo ano (primeira série). Geralmente é na segunda ou terceira série que o transtorno torna-se visível.

Os sintomas da discalculia variam de acordo com a idade. Em crianças pequenas, entre 3 e 6 anos, pode-se observar dificuldade na compreensão de conceitos como igual e diferente, mais e menos, igual e diferente, contar e reconhecer numerais até 10, classificar objeto pelo tamanho. Já no final da primeira série, as crianças podem apresentar dificuldade para dizer, por exemplo, quais são os números que vêm antes e depois de 12, compreender os sinais + , - , x , : , montar as operações e lembrar de procedimentos que envolvem estas operações. Nas séries seguintes são notadas dificuldades na memorização da tabuada, fraca capacidade para cálculo mental, na transposição de problemas escritos em símbolos matemáticos, dificuldade na compreensão dos conceitos de medidas, e falta de automatização do cálculo levando a dependência por estratégia primitiva como o uso dos dedos. Além disto, um número significativo de crianças com discalculia desenvolve sintomas de ansiedade e aversão à aprendizagem da aritmética No adulto, a discalculia pode se manifestar em situações do dia a dia revelando dificuldade no julgamento da passagem do tempo, estimar o custo de uma cesta de compras, estimar distâncias ou medidas, fazer planejamento financeiro e até dificuldade com o uso de calculadora.

Embora o diagnóstico não possa ser feito antes dos 10 anos de idade, não significa que antes desse tempo não possamos iniciar uma investigação sobre dificuldades apresentadas pela criança. O melhor caminho aponta sempre em direção ao diagnóstico e tratamento precoce. Se esperarmos até que ela esteja mais velha o bastante para um diagnóstico apropriado, poderemos ter desperdiçado um tempo precioso e ter causado à criança muitos anos desnecessários de esforço e frustração.

Este diagnóstico deve ser feito por uma equipe interdisciplinar, composta por fonoaudiólogo, neuropsicólogo, psicopedagogo e neuropediatra que avaliarão o desempenho da criança nas diferentes áreas cognitivas. Através do levantamento do perfil cognitivo da criança, buscam-se os subsídios necessários para o planejamento de uma terapia eficiente, direcionada às suas dificuldades específicas. Para os professores, o diagnóstico será valioso ao permitir planejar o trabalho corretivo exato, através de formas alternativas de ensino, melhorando desta forma o sucesso nas lições.

A intervenção precoce melhora o rendimento acadêmico e a qualidade de vida da criança, minimizando os efeitos deletérios do transtorno, como o desenvolvimento de sentimentos de frustração, desmoralização, baixa autoestima, comprometimento da motivação para o estudo e dificuldade na integração social. A presença frequente de comportamentos desadaptativos do tipo desobediência, agressividade e comportamento antissocial associado às dificuldades de aprendizagem podem se evitados.

Concluindo, é fundamental que a dificuldade de aprendizagem da matemática seja melhor compreendida para que essa área de conhecimento deixe de ser vista, de forma simplista, como uma área de acesso restrito a poucos. Desta forma, o funcionamento da vida cotidiana, social e profissional de muitos adultos será preservado. Para isso precisamos contar com professores dedicados, famílias acolhedoras e profissionais competentes.


 Fonte: Dislexia

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