Dinamarquês que alocar 1 milhão de autistas no mercado de TI
Por indicação de uma amiga (Claudia Malardo), posto essa matéria!! Muito boa por sinal!
Dinamarquês
que alocar 1 milhão de autistas no mercado de TI
PATRÍCIA GOMES
DO PORVIR
DO PORVIR
Thorkill Sonne é um caçador de
talentos. Sua missão é encontrar, treinar e apresentar ao mercado as melhores
pessoas para preencher vagas que nem sempre encontram candidatos à altura. São
especificamente funções na área de TI (tecnologia da informação), que demandam
profissionais com um grande poder de concentração e muita atenção aos detalhes.
Na busca por esse perfil e mobilizado
por um drama pessoal, Sonne se deu conta de que um grupo normalmente relegado
às margens do mercado de trabalho -e, às vezes, até da sociedade- era capaz de
desempenhar essas atividades melhor do que ninguém: as pessoas com autismo.
Ali, no que a maioria das pessoas via desvantagem, ele percebeu uma
oportunidade justa de crescimento e quer alocar 1 milhão de profissionais no
mercado de trabalho.
"Se alguém tem algum tipo de
desordem, como autismo, as pessoas simplesmente não esperam nada dela. Mas ela
pode ser muito mais esperta do que se pensa. Nós ajudamos pessoas, empresas e
governos a pensar a partir dessa perspectiva", diz Sonne, fundador da
Specialisterne (especialista em dinamarquês), uma empresa da área de TI que
avalia, capacita e forma consultores com autismo, oferecendo-lhes a
oportunidades de ter uma vida produtiva.
Entre as atividades que os
"especialistas" de Sonne são capacitados a fazer estão desde a
manipulação de dados, passando por teste da funcionalidade de aplicativos até a
programação e a construção de algoritmos.
Parte disso ocorre, segundo ele, porque
muitos autistas têm capacidades profissionais únicas. "Muitas vezes, eles
têm uma memória excelente, uma ótima habilidade de perceber padrões e uma
incrível capacidade de encontrar alegria ao desempenhar funções que a maior
parte das pessoas acharia chato".
A ideia de fundar a Specialisterne teve
princípio em uma observação profissional. Sonne sempre se incomodou com a falta
de mão de obra especializada que a empresa onde trabalhava -e viria a se tornar
a sua primeira cliente- enfrentava rotineiramente.
Mas foi uma razão pessoal que fez Sonne
perceber quem seriam as pessoas ideais para preencher essa lacuna. Aos dois
anos de idade, seu filho, Lars, hoje adolescente, foi diagnosticado com
autismo. Até então, Sonne e sua mulher nunca tinham tido contato com o assunto.
"Primeiro, não sabíamos o que fazer. Depois, começamos a ler livros,
conhecer pessoas", conta ele.
Com o tempo, foram percebendo que Lars
tinha uma memória fora do comum e que, entre crianças e jovens autistas, muitos
tinham capacidades que poderiam ser aproveitadas no mercado de trabalho, se bem
trabalhadas. Estava aí a chave da mudança. Sonne pediu demissão, hipotecou a
casa, elaborou uma metodologia de trabalho e fundou a Specialisterne.
"Nós não ensinamos a eles como 'se
comportar bem'. Eles não precisam se adaptar às regras normais de um ambiente
de trabalho", afirma . Seus "especialistas" não são obrigados a
serem bons em atividades que vão contra a sua natureza, mas apenas desempenhar bem
determinadas funções para as quais têm destreza, o que lhes garante
sustentabilidade no emprego.
"Eles não precisam aprender a se
adaptar às regras normais de ambientes de trabalho, como ser bom em trabalho de
equipe, ser empático, lidar bem com o estresse ou ser flexível. Essas não são
características normais em pessoas com o autismo", diz a empresa em seu
site. Por isso parte do trabalho da Specialisterne é também preparar a empresa
para receber seus especialistas em sua equipe.
Quase uma década depois do início de
sua atuação, Sonne não tem mais apenas uma empresa na Dinamarca. Ele já atua em
países como Noruega, Áustria e Estados Unidos. Mais recentemente, além do
trabalho direto com as pessoas com autismo, ele lançou a Fundação Specialist
People, cujo objetivo é falar para pessoas, organizações e governos sobre o
assunto e para fazer seu modelo replicável pelo mundo. "Faz parte da nossa
estratégia ter o nosso modelo copiado. A gente gosta quando isso
acontece", diz ele.
Com toda essa rede de apoios, Sonne
determinou uma meta ousada: colocar 1 milhão de pessoas com no mercado de
trabalho. Para chegar a esse número, fez uma conta simples. Não há pesquisas
inteiramente confiáveis, mas calcula-se que, no mundo, cerca de 68 milhões de
pessoas tenham autismo e outras tantas tenham sido diagnosticadas com desordens
similares. Todos eles são "especialistas" em potencial.
"Ao colocar essas pessoas no
mercado de trabalho de maneira sustentável, criamos esperança para milhares de
pessoas. Vemos famílias felizes, pessoas com autismo aparentemente tendo uma
boa vida. É para isso que trabalhamos."
Fonte: Folha de S. Paulo
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